quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sonho-te - Por Claude Bloc

São estes os passos
que se alastram pela solidão da tarde.
E o sorriso não consegue domá-los
nem contê-los.
Chegam-me as réstias
o resto, o pó de tuas palavras
A aspereza de um gesto
desnecessário
Hoje sonho-te
e tuas mãos estão inertes
e se calam
no calor da tarde.
.
Texto e fotos - por Claude Bloc

Roberto Carlos canta...


Roberto Carlos canta...

MAIS UMA VEZ

http://www.youtube.com/watch?v=7bp3mQVOZgY

Estou sempre voltando ao Crato - Por Claude Bloc


Há momentos em que a emoção não consegue sem barrada nem velada. Pelo contrário, nos sentimos embebidos/as dela, encharcados/as da mais linda amizade que se pode ter. A amizade que nos chega ás raízes da vida e nos joga de volta aos longínquos laços deste sentimento mais que precioso.
Agradeço, portanto, a José do Vale por este texto a mim dedicado, quando mais uma data de meu curso de vida em mim se completa.
Escolhi o Crato para estar nessa data entre amigos. Para comemorar a vida. E para agradecer o carinho que todos têm me dedicado apenas com minha presença, pois que as palavras seriam ínfimas e insuficientes diante do que sinto e nunca conseguiriam expressar o “bastante”.
Então, me aguardem... Estou chegando. Estou sempre voltando ao Crato

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Dentre meus muitos gostares existem alguns que cultivo, que vou dilapidando e polindo, que vou cravejando com preciosas prendas. Nesta constante metamorfose, vou produzindo em mim uma eterna reforma, me tornando, nesse enredo, um verdadeiro universo em ebulição constante. Nesse universo estão meus limites (físicos ou não) e estão plantadas minhas raízes, meus melhores afetos, minhas boas lembranças. Fico então delimitada: bem ao centro está minha perspectiva de vida, mirando para o Sul do Ceará, ao norte dos meus sonhos perenes.

O Crato é sim, queiram ou não, singular nesses muitos aspectos que me aprazem, dentre os meus muitos gostares. É singular em arte, em costumes, em humor, em vida. Singular em verso ou prosa, muita prosa! É peculiar em sua maneira de ser cidade. Em seu modo de ser um recanto sempre lembrado, mesmo pelas ovelhas desgarradas pela imposição da vida. E, como já citei muitas vezes, o Crato tem um ímã do qual a gente da terra não consegue se desgrudar, pois que, quem ama o Crato não o ama superficialmente, mas o tem bem no centro da alma, como uma essência indelével e inolvidável.

Quem ama o Crato como eu, é sensível aos espinhos de suas trilhas e padece com as farpas estranhas à doçura que lhe é peculiar. O Crato é doce. Tem o açúcar das canas e dos canaviais, tem o mel no coração das pessoas que circulam pelas linhas do seu destino. Tem o tijolo de buriti que lhe serve de pilar e que assanha a verve dos mil poetas que (de)cantam a “flor da terra do sol”: “Sou teu filho e ao teu calor, amei, sonhei, vivi”.

O Crato é então esta obra de arte encravada bem no centro do meu coração (e no de todos os cratenses). Nem ao Norte, nem ao Sul. E me sinto centrada neste amor tranqüilo que equilibra meus humores. O Crato está na vanguarda, além dos limites dos pobres de espírito. O Crato é então “o meio e o curso que faz o curso se mover”. Seu povo é generoso e bom.
Mas (como bem diz José do Vale) poderíamos chamar o Crato de mundo e nele evocar a vida. Comemorar a vida em meio aos amigos, pois que nesta dimensão, em meio a eles, serei parte desse inquestionável e amado universo.

Texto e imagem de Claude Bloc

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Flor de Laranjeira - Por Claude Bloc



Pareces nem me reconhecer quando entro. “Cheguei”, e é tudo quanto consegues dizer porque a emoção te prende a voz. Prendes-me também num abraço interminável... Permaneço impassível. Não consigo pensar, mover-me, retribuir teu gesto desolado e amarrotado de saudade. Sempre quis te encontrar, simples assim. Sempre quis. Te busquei na memória tantas vezes e outras tantas colhi teu sorriso (quando perdia as esperanças) nos escritos do meu diário.

Lá tu sempre estavas. Belo e amigável como nas horas em que te vinculei como fogo indelével às minhas lembranças. Enfim, chegaste. E ali permanecemos, juntos, envoltos no aroma de flor de laranjeira que, do quintal, invadia a casa. Os pardais nos tocaiavam sem entender a novidade.

O chão, então, pareceu cobrir-se de um tapete perfumado de flor de laranjeira. Passeei sobre ele. Os ramos das laranjeiras estavam agitados, agitados os sentimentos que me perpassavam. Lembro-me de tudo. De minhas vãs tentativas de te encontrar. Repeti tantas vezes o teu nome, entrelacei-o ao meu tentando sentir tua presença. Mas o tempo e a vida nos afastaram. E tu não conseguiste separar as coisas no seu devido tempo. Não soubeste acolher minhas palavras de desamparo, nem te esquivar dessa vida que levas encerrado nos espaços vazios de tua alma.

E no entanto cá estou, na penumbra à tua sombra. Desce sobre mim uma chuva de pétalas. Flor de laranjeira. As árvores oferecem os frutos carnudos aos nossos olhos...alguns nos ramos mais altos. Não consigo alcançá-los. Então pousas na minha página em branco. E novamente deixas escrito mais um verso. Tu e eu somos um só, a poesia, o poema.


Por Claude Bloc

Reverso do Verso - Por Claude Bloc


Se eu pudesse
Seria o reverso
De teu verso
Pois que
Não sei por quê
As palavras se fecharam em tua boca.
As tuas palavras
O teu verso esquecido
No meu caminho em branco.

Por Claude Bloc

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE - Mário Quintana


Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Mario Quintana - A Cor do Invisível

sexta-feira, 12 de junho de 2009

A Metáfora


Sábado chuvoso. Não saberia dizer adeus de novo. Os traços postos no papel repetiam seus gestos impacientes. Mais uma vez um monólogo com aquele tempo preso pelos recantos da casa. De fato gritava em seu silêncio. A palavra lhe vinha primitiva e limpa percorrendo-lhe a memória, ventando através da garganta. Sua fragilidade no momento desalinhava os traços precisos de sua boca. Precisava conciliar as idéias em sua mente.
Levantou-se se espreguiçando. Afastou-se dali por alguns segundos, reteve o passo e voltou-se mirando o centro dos olhos naquela foto. Contemplou por alguns instantes a emoção ali retida naquela expressão que parecia perscrutá-la. Jamais deixaria de lamentar aqueles falsos adeuses que não passavam de súplica por permanência. Era seu jeito de falar sobre a eternidade do que sentia.
Estava ali a foto. Estranhamente não imaginou deparar-se com ela depois de tanto tempo. Sentou-se à beira da cama. Revirou a gaveta cumprimentando cada foto ali guardada. Queria manter-se à distância da emoção, porém nada parecia ter-se alterado naquele lugar. Os folhetos pardos, tocos de lápis, anotações da avó. Tudo ali perpetuado remexendo com suas lembranças.
Em vão, procurou a mão invisível do tempo nos quatro cantos do quarto. Ela mesma, ainda a menina inadequada de antes. Só então percebeu que usava um vestidinho amarelo. Parecia ter-se vestido para um encontro com ele. Com aquele olhar retratado na foto.
Se permanecesse ali, imóvel e ausente. Se apenas não se movesse nem se fizesse notar... Mas era evidente o quanto estava viva. No fundo de seus pensamentos estava viva embora estranha a tudo ali, sobretudo a si mesma.
Sentou-se na cama. Apalpou a maciez do lençol buscando através do tato tornar o momento mais concreto. Instintivamente tomou ao colo o velho violão abandonado num canto do armário. As cordas estavam quase rotas, mas o som suave das poucas notas que dedilhava, pareciam-lhe um hino. Hino aos seus dias felizes. Hino ao seu sorriso triste do momento. Não sofria. Era delicada a sensação de saudade que sentia de cada pedacinho daquele ambiente.Mas nada tão forte como a veemência das palavras que escrevia.
Sentiu-se de repente um pássaro preso, atônito diante das intempéries por que passara até chegar a esse limiar de paz e sossego. Largou o violão. Tomou de volta um toco de lápis e sua agenda. Escrevia. Suas letras tortuosas passeavam por sobre a folha em branco lembrando as curvas da estada por onde andara até chegar ali. Curvas sem história, sem nada. Escrevia compulsivamente. Dava forma e cor aos olhos graúdos do seu personagem. Tudo tinha essência e brilho ali. Esses olhos deveriam ser enigmáticos, deveriam sugerir um mundo inteiro de mistério sem mergulhar no vazio do tempo. As lembranças, essas sim deveriam ser soberanas e conclusivas.
Suspendeu a escrita. Era difícil estar ali sem relembrar fatos, pessoas e aquele olhar grudado nos seus sentidos. Levantou-se num ímpeto. Mediu seus passos com os olhos enquanto se dirigia para o terraço. Seus passos eram curtos e obtusos como sua mente naquele momento.
Sentou-se no velho tamborete perto do parapeito. A silhueta da serra se delineava entre as copas das árvores, quase tocável, apesar da distância. Seu olhar se perdeu no vale e nas cores pardacentas do dia que declinava. Seu silêncio consumia as encostas da serra e a melancolia da tarde. Estava ali o olhar. A metáfora de sua vida.
Texto e foto por Claude Bloc

terça-feira, 2 de junho de 2009

Só há poesia...


... Ei, tristeza,não sei quem te chamou. Portanto, te peço, arreda o pé, vai embora... Já te releguei ao passado e não quero mais cruzar o teu caminho!
... Pois é, dona tristeza, visitei lugares de minha infância lá pelas bandas do Crato e vi que a velha casa onde morei quando criança ainda estava incólume, austera, mas entristecida e abandonada.
... Eu mesma a larguei por tanto tempo que nem suportava mais toda a saudade acumulada em meus guardados. Percebi, também nessa visita, que, depois desse degredo, já não existem mais os pés de cajarana que reguei, nem as duas goiabeiras em cuja sombra me assentei, a cobiçar os frutos nos galhos mais altos...
... Só sei que cheguei lá devagarzinho e fiquei ali, diante dessas ausências sem perceber com clareza que estar com você, tristeza, é o mesmo que estar diante de um espaço vazio. Saber que, cedo ou tarde, tudo o que está presente ficará ausente. É isso!
... Você é traiçoeira e se expande... e vai testemunhando esse mistério da despedida gravado em nossa própria carne. Essas lembranças que vamos carregando e esse ar de despedida colocado em tudo o que fazemos e deixamos pra trás...
... Você, tristeza, é essa ausência que demora, ausência que devora: o espaço entre o belo e o efêmero de onde nasce a poesia. E assim, nessa amálgama os poetas vão colocando suas palavras sobre o vazio. Não um vazio qualquer, mas um vazio que é um "pedaço arrancado de mim”. Um exercício de saudade; de tornar de novo presente, um passado que já se foi.
... Então penso em Drummond que afirmava não lastimar o espaço vazio no seu texto “Ausência": "por muito tempo achei que ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não o lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres, porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba de mim..."
... Portanto, dona tristeza, procure outras paragens, pois no vazio de minhas noites só há poesia...
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Texto e foto por Claude Bloc