sexta-feira, 1 de julho de 2011

São João dormiu?


 São João chegou e passeou pelo terreiro. Olhou pra fogueira e sorriu: "por onde andei o ano inteiro?" Pensou e pensou, sorrindo: "bem que dizem as pessoas - São João dormiu, São Pedro acordou"...

E bem acordado deu a volta ao redor da fogueira e olhou para aquele fogo incendiando as lembranças mais antigas. Faíscas brilharam mais fortemente quando ele se curvou e puxou um pedaço daquela lenha incandescente. Lembrou-se de quando era festejado lá na Serra Verde, das latadas cobertas de palha de coqueiro, do chão batido e molhado para dominuir a poeira, das fogueiras bem altas, dos bolos de Mãe Cãida, da sanfona afinada de Chico Jucá, brigando com o violão e o pandeiro de Cícero... Das brincadeiras de "pau de sebo", "corrida de saco", "passa anel", "mala" e os "contratos" de padrinhos, primos, compadres... à beira da fogueira:

"São João disse
São Pedro confirmou
Que você fosse meu compadre
Que São João mandou."

Ah, Seu Hubert. Ah, Dona Janine... Onde andam Manuel Dantas, Mãe Mina, Chiquim, Pedim, Zefinha? Cadê Cãida, Naninha, Joaquim Carlos, Seu Antonio Coelho e a dança das facas?
Cadê o povo da Serra Verde, minha gente?

E São João passou a mão nos cabelos ondulados, fechou os olhos e percebeu que naquela noite estava em um terreiro diferente, em uma casa diferente. Aquela gente era quase a mesma, mas muitos haviam partido lá pras nuvens para assistir a festa lá de cima. 

Nessa noite São João não dormiu. São Pedro foi chegando devagar, trazendo de volta a alegria pra festa. A música pipocou no ar junto com as gargalhadas, os traques, os pichites, as bombas, as chuvinhas, os fogos...

O vento frio se enroscou na fogueira e as estrelas se acenderam pra alegrar a gente.

E tome dança, quadrilha e brincadeira.
E tome graça, animação e fogueira.

Depois da festa, o dia já clareando, São João abraçou cada um. Beijou de mansinho as crianças e adormeceu...

Claude Bloc