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Claude Bloc
C'est moi...
Hoje me basta esse amor
E esse bastar ocorre
Justamente quando se transforma
Todo desejo em saciedade
Eis enfim o lume, a chama acesa
Que plenifica a falta
A redenção
O sol crescente.
Eis o resgate que vai além
De uma entrega irrestrita
Quando o humano ser, em mim
Se aniquila
E depois retorna incompleto
À consciência...
Quando esse amor se fecha
À certeza de sua incompletude
Que já não é, pois inexiste.
E eis que me busco um pouco aqui e ali
Nessa ruptura que fulmina a alma
Na desmesurada perda dos limites.
Busco, então, nessa agonia
Um porto firme para ancoragem
Quando o amor caminha pelas margens
Nesse eclipse total da consciência
A transbordar de pura euforia.
Claude Bloc
O que restava do pé de baraúna até uns 4 anos atrás
.Quando crianças, acreditamos em tudo. Nos põem medo do que não existe, criam enredos que passam pela tangente da imaginação, rebocam as paredes da nossa criatividade, sem direito a pesar ou medir o resultado do desenlace e a autenticidade dessas fantasiosas empreitadas.
.Pois foi lá em Serra Verde que me apareceu uma dessas histórias meio escabrosas a qual, na verdade, nunca quis experienciar, nem fazer o teste de S. Tomé.
Era o seguinte: todo final de tarde a turminha de irmãos, primos e amigos que passavam as férias na casa-sede com a gente, depois de um bom banho no açude, seguia em bando para passear a pé pela fazenda. Havia algumas opções para os passeios: dirigir-se à Represa (do açude) onde morava a família Carlos, João Paulo e “Sulidade”, Maria de Geraldo, João Soares e João Franco com suas devidas famílias. Ir até o engenho no mês de julho, ou simplesmente ir à bodega de Seu Moreira, pra comprar algum bombom. Ir até o Jardim, sítio dos Botelhos e Aurélios (Orelo), que ficava perto do engenho ou pros lados do Guedes, aonde depois vieram morar Mãe Cândida (Cãida) e Mãe Naninha, duas irmãs, boleiras de mão cheia. Havia também a opção de subir a ladeira da Serra, em direção à casa de Seu Manoel Dantas. Cada tarde havia, portanto, uma opção diferente para se escolher.
Nesses passeios, em cada terreiro uma saudação aos donos da casa, um gracejo, ou se ia “escruvitiar” pelo chão de terra em busca de pedrinhas coloridas ou, quem sabe, subir nos pés de cajarana em busca dos frutos de vez... Eram portanto, mil estripulias, sem contar com o drible às vacas que ruminavam pela estrada, ou pelos terreiros das casas...
Esticou-se na varanda a tarde toda
e assim ficamos eu e ele
cada um em seu canto
entre os rompantes do sol
e o gosto salgado da brisa...
Ri sozinha.
Pela minha mente
frases inteiras borbulhavam,
mas havia indiferença
naquele olhar (des)atento
quase risonho.
Pairava nesses olhos
uma dormência felina
que estremecia
com o esticar desajeitado das pernas
com o lamber quase constante das patas
deixando-me entrever o corte harmonioso
daquela boca dentada.
Senti-me nessa hora absolutamente dispensável
.
E assim, passou a tarde.
Dias achatados como o de hoje
fizeram fila na minha frente:
pressupostos da vida
mudanças de lugar
levando meu sonho junto a essa madorra
pelos corredores silenciosos do meu pensamento.
A tarde me fazia criança
( ir)refletida nesse universo
onde caminha a minha humanidade
onde aporta a calmaria intensa desta casa.
Aqui vozes não se tocam.
São um logro.
Então, farejo como ele
uma noite tão igual por dentro
ao som e aos gestos de uma saudade sem limite.
Resisto.
Às vezes o pensamento pára.
Sou como esse animal lambendo as patas:
abro os braços em toda a extensão do espaço
recolho nas mãos a cor da noite...
Aquieto-me.
Texto e foto por Claude Bloc
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