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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Vigília
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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Dezembro - Diálogo Poético (Duplix)
Diálogar poeticamente é possível quando por um momento as palavras calam e a alma alça vôo...É isso que vem acontecendo aqui e que torna possível esta sintonia literária. Socorro Moreira compôs seu poema (em amarelo) e Claude Bloc entremeou seus versos (em branco) aos dela proporcionando um arranjo.
Tenho muito gosto
de viver mais um dezembro
Os mesmos sinos
As mesmas bolas
O mesmo ar de festa
em toda porta.
Tenho muito gosto
De tocar os sonhos
Os mesmo sonhos
Que sempre dedilhei
E que hoje voltam
As ruas escancaram seus mistérios
Os perus morrem
antes da véspera
Congela-se o gosto de ceia.
A vida conserva seus desígnios
Seus conceitos
E cristaliza-se num só momento
As árvores se enfeitam
Eu me enfeito
A cidade se aclara
de luzesque piscam ...
Eu me ilumino
Em tons de prata e dourado
morre o dia.
Eu renasço !
Noites quentes
buscam o retrato da neve
Dias mornos
Tangem meus pensamentos
Adultos brincam
de rasgar papel ...
Minha alma brinca
de soltar balão
na alegria de uma prenda.
Amigos se ocultam
Eu me mostro
numa brincadeira gostosa ...
e trocam mensagens , presentes.
e trocam afetos, sorrisos
Vestidos , sapatos novos ,
abraços
esperam o niver
do mais famoso dos homens :
Cristo.
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Diálogo Literário – (Duplix)

E eu?
Da fala beiradeira,
tosca na origem,
coruscante expressão.
Mesmo que no filme fosse o artista,que ainda mais falante,
jamais disse: C´est ma vie.
Da janela eu pensava:
C’est ma vie, c’est ta vie
C’est la vie de tout le monde
Como num carrossel que gira
Em torno do pensamento.
Do alto em que o baile ecoava-se,
na acústica do céu estrelado do Crato.
Muito além da França,
sendo franco,
até do horizonte,
lá meu sonho nasce: C´est ma vie.
A serra posta em silêncio
Quedava-se enternecida
Cúmplice, guardava os ecos
Da vida de seus passantes
Esperando o sol nascer
C’est la vie! C’est la vie!
Na varanda da minha casa,
Os sons chegavam na noite
Trazendo acordes da França
E vida ia passando...
Embaixo do telhado,
salão de luzes esmaecidas,
repercussão dos sons universais,
cantante,
sussurrante,
ao teu ouvido dizer,
não sou francês: C´est ma vie.
Pelo salão deslizavam
Pares, ritmos, sintonia
A timidez, o fascínio
Os dias dos sonhos primeiros
Rodopiava a vida
E os suspiros verdadeiros:
C’est bien la vie qui passe!
Moi aussi, c’est ma vie...
O ritmo ligeiro
de cavalaria napoleônica,
os terrenos rodopiando.
Eu cantava,
e na tua pupila brilhava
a dúvida da ousadia farsante: C´est ma vie
A euforia brincava
Com as emoções do momento
A música vibrava intrépida,
E os sonhos rodopiavam
Em surdina pelo espaço
C’est la vie, c’est bien ma vie...
E na janela do tempo
Eu refletia em silêncio:
Toi, si Dieu ne t'avait modelé
Il m'aurait fallu te créer
De morno sopro ao teu ouvido,
meu coração se esfumaçava,
Hugo tocando Adamo.
Luzes pontuais
como pirilampos na noite escura,
acendiam em teu ouvido: C´est ma vie.
Sutilmente deslizavam
Pela face afogueada
Lágrimas límpidas de emoção
E a vontade cristalina:
Vontade de estar ali
Vontade de não fugir
C’est à toi que je dis:
C’est ma vie, c’est ta vie!
Entre outros casais esquecidos,
como numa noite,
as árvores de uma floresta,
caules rodando,
teu perfume bailando
grades de uma prisão
aberta ao infinito: C´est ma vie
A música ressurgia lenta
Lá do mais fundo da noite
E entre suspiros dizias
Num francês terno e suave:
Tu offres à mon cœur chaque jour
Tous les visages de l'amour
Rápido!Qual pensamento ligeiro,
menos que a letra “a”
ou o numeral 1.
De Chanson en Chanson,
estava tua orelha cada vez mais
ao sabor dos meus lábios.
Minhas narinas
lançavam o fogo dos dragões
sobre teu corpo ao meu peito,
cor em brasa,
e para aplacar tamanha ebulição,
suspirava: C´est ma vie. C´est pas l´enfer.
Nas sendas do meu caminho
Perdida em pensamentos
Ecoavam as palavras
Dentro da madrugada
Eu caminhava sem rumo
E teu calor me abordava
Abrasada eu dizia:
Je le sais bien, c’est ma vie !
E girava o mundo
como nós,
ola descomunal
paixões transcontinentais.
Dali jamais sairia,
mas te levaria a uma ilha deserta,
C´est ma vie. C´est pas l ´paradis.
Notre histoire a commencé .
Tua alma se agitava
Teus anseios te assolavam
Falavas como na música
Que o Aznavour entoava:
Moi, je suis le feu qui grandit ou qui meure
Je suis le vent qui rugit ou qui pleure
Je suis la force ou la faiblesse
Lá fora o universo era universal,
a cana, canavial,
o jovem, amoral.
Mas que importa é o visgo
da cintura em meus braços
e eu até dizer: C´est ma vie.
A serra agora era o mundo
Que cercava tua ousadia
Que ungia tuas vontades
C’est la vie qui nous parle.
E Aznavour continuava:
Moi, je pourrais défier le ciel et l'enfer
Je pourrais dompter la terre et la mer
Et réinventer la jeunesse
Mas como queria ter dito,
mesmo hoje,dizer.
C´est ma vie.
As palavras nas canções
São como nosso discurso
As lindas jóias que ficam
Bem guardadas na memória
Somos hoje, fomos ontem
Mensageiros de emoções
C’est la vie, bem pensamos:
Un mot de toi je suis poussière ou je suis Dieu
Qual Alain Delon,
e Dalida em paroles, paroles:
C'est étrange,je n'sais pás ce qui m'arrive ce soir,
je te regarde comme pour la première fois.
E antes que a orquestra parasse,ainda dizer:
Toi, sois mon espoir, sois mon destin
J'ai si peur de mes lendemains
Montre à mon âme sans secours
Tous les visages de l'amour
Mon Amour
Stradivarius
Um simples mergulho
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Filetes

Filetes de água
Singram
Sangram
Escorrem pela face
Em desarmonia
Mais tarde o sorriso
Pousa e descansa
Nos cantos dos lábios
Em águas serenas
E mostra-se a alma
Em olhares perplexos
Em águas profundas
Tu estás...
Eu estou
São as águas da vida
São olhares precisos
Emoções intocadas
Em torrentes de amor
Águas transparentes
Regando os sonhos
Lavando a saudade
Onde vais
Onde vou?
Texto de Claude Bloc
***
Voz de Claude Bloc: http://recantodasletras.uol.com.br/audios/poesias/1051
domingo, 23 de novembro de 2008
Deforete

A essa época, a rua era nova e terminava pouco adiante de minha casa. Seu Felipe Ribeiro da Silva e Dona Guimar, nossos vizinhos e amigos, na época, venderam a meu pai a casa de número 22 (que depois mudou de número). Ficava (e ainda está lá ) bem em frente do “Grupo Teodorico Telles” (que depois, com as novas denominações, recebeu aquele nome enorme que é um martírio para os pobres aprendentes).
Assim, dentre tantas histórias da Irineu Pinheiro, ressalto neste momento apenas mais um detalhe curioso. Uma personagem que me ficou na memória por suas características “sui generis” : era Dona Ana Preta, que em sua simplicidade, fazia parte do folclore da rua. E havia um motivo especial para isto. Ela era amiga de Seu Januário, pai do nosso Luiz Gonzaga, rei do Baião e era sua anfitriã quando ele visitava a cidade de Crato. Seu Januário ia buscar, lá em Seu Zé Barbosa, que morava mais acima, os chapéus de couro e gibão, que este fazia com esmero e que eram encomendados por Luiz. Dona Ana também gostava de contar as histórias de Lampião e, “vira-e-mexe”, tinha gente curiosa por lá escutando os “causos”, recheados de fantasia.
sábado, 22 de novembro de 2008
Chama-me saudade

Cinge-me o corpo
Lavra-lhe os vãos
E os ensejos
fazes de mim o teu pretexto
E o teu fim.
Toca-me de mansinho
Cataloga-me
espécie rara em extinção.
como se fosse hoje
E chama-me saudade...
sábado, 15 de novembro de 2008

Podia estar no mundo
Ao sol, cheio de fadiga.
Podia perder o medo
Não ter a marca da dor.
Podia, do mesmo modo,
Perder tua companhia,
Perder as coisas mais simples
Como, de fato, pensei...
Podia, sei que podia...
Podia ter-te ouvido
E viver em desatino
Podia, feito menina
Entrar na contrabalança,
Podia enfrentar o ócio
E todo esse afastamento...
Podia, sei que podia...
Ocupar os dois extremos
De dois sentidos opostos
Podia girar a vida
Ter um sonho a cada dia
Tudo isso, eu podia..

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Ser de/do Crato, implica em ser criATIVO, ATIVO, imerso em paLAVRAS, LAVRAS em verso e prosa.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
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Já pensei muitas vezes em escrever sobre o Crato, e, maiormente, sobre esse (in)explicável sentimento que todos os cratenses têm pela sua terra. Esse sentimento exacerbado e efervescente que jamais vi em outra, das tantas cidades que conheci... Não sei bem como explicar, mas creio ser um sentir (in)exato, de tão forte, de tão absoluto que se manifesta.
Na minha vida errante pelo sul, pelas tórridas ruas de Sobral, pelas ensolaradas praias de Fortaleza, por todos os mais diversos (re)cantos, insalubres ou não, por onde andei, nunca, jamais, encontrei no olhar de toda essa gente que povoou, de alguma forma, meus momentos, o calor intrínseco e “ruidoso” que alimenta a alma de um cratense.
... E fala-se da terrinha com orgulho, com um garbo majestoso de quem renasce a cada sorriso, diante da lembrança contundente dessa terra querida, desse quinhão afetivamente incrustado na alma.
Somos, então, todos cúmplices nessa história que escrevo emocionada. E hoje, olho para mim, imersa nessa amálgama, comunicando-me com o universo com um sotaque específico e claro: “sou de Crato e estou morrendo de saudade”... Como todos os que amam minha cidade, orgulho-me de ter crescido por entre essas pessoas todas que hoje ilustram minha memória em tantas linhas da minha prosa.
O Crato para mim não é um lugar remoto. Nunca deixei de visitá-lo mesmo em minhas incursões por outras terras. Nunca me senti estrangeira olhando de longe essa saudade inesgotável. As ruas, as pessoas, a vida do/no Crato passeiam em minhas veias a cada alvor do dia, porque nunca deixei de amar a terra, a serra e essa linguagem própria e estranhamente inusitada.
Por todos os meus poros vou além deste amor intransitivo, num reconhecimento mútuo que (de)codifico em meus refúgios mentais. O Crato é meu espelho e meu norte. É lá onde me posto neste sutil encantamento em que as melodias do meu estro se deixam quedar absolutamente (in)confessáveis. Sou de Crato... e me utilizo dessa luz insuspeita que me acalenta, para adormecer as coisas, para registrar o abandono a que me impus em outras terras.
Perco-me de mim, mas (re)visito-me no Crato. Sufoco-me na emoção de um novo encontro... Viceja em mim a sinfonia única e transparente do passado e os acordes mais dolentes que solfejo em carne viva... Renasço a cada gesto lasso e impaciente De volta, transcendo num limbo florescente e belo: meu Crato!