sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Sou de Crato
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Já pensei muitas vezes em escrever sobre o Crato, e, maiormente, sobre esse (in)explicável sentimento que todos os cratenses têm pela sua terra. Esse sentimento exacerbado e efervescente que jamais vi em outra, das tantas cidades que conheci... Não sei bem como explicar, mas creio ser um sentir (in)exato, de tão forte, de tão absoluto que se manifesta.
Na minha vida errante pelo sul, pelas tórridas ruas de Sobral, pelas ensolaradas praias de Fortaleza, por todos os mais diversos (re)cantos, insalubres ou não, por onde andei, nunca, jamais, encontrei no olhar de toda essa gente que povoou, de alguma forma, meus momentos, o calor intrínseco e “ruidoso” que alimenta a alma de um cratense.
... E fala-se da terrinha com orgulho, com um garbo majestoso de quem renasce a cada sorriso, diante da lembrança contundente dessa terra querida, desse quinhão afetivamente incrustado na alma.
Somos, então, todos cúmplices nessa história que escrevo emocionada. E hoje, olho para mim, imersa nessa amálgama, comunicando-me com o universo com um sotaque específico e claro: “sou de Crato e estou morrendo de saudade”... Como todos os que amam minha cidade, orgulho-me de ter crescido por entre essas pessoas todas que hoje ilustram minha memória em tantas linhas da minha prosa.
O Crato para mim não é um lugar remoto. Nunca deixei de visitá-lo mesmo em minhas incursões por outras terras. Nunca me senti estrangeira olhando de longe essa saudade inesgotável. As ruas, as pessoas, a vida do/no Crato passeiam em minhas veias a cada alvor do dia, porque nunca deixei de amar a terra, a serra e essa linguagem própria e estranhamente inusitada.
Por todos os meus poros vou além deste amor intransitivo, num reconhecimento mútuo que (de)codifico em meus refúgios mentais. O Crato é meu espelho e meu norte. É lá onde me posto neste sutil encantamento em que as melodias do meu estro se deixam quedar absolutamente (in)confessáveis. Sou de Crato... e me utilizo dessa luz insuspeita que me acalenta, para adormecer as coisas, para registrar o abandono a que me impus em outras terras.
Perco-me de mim, mas (re)visito-me no Crato. Sufoco-me na emoção de um novo encontro... Viceja em mim a sinfonia única e transparente do passado e os acordes mais dolentes que solfejo em carne viva... Renasço a cada gesto lasso e impaciente De volta, transcendo num limbo florescente e belo: meu Crato!

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