
........ Difícil esquecer também os dias infindáveis de brincadeiras pelas ruas, onde, depois da chuva, filetes de água, refletindo o céu nublado, acompanhavam o meio-fio, dobrando na esquina, em busca do Rio das Piabas...
........ A chuva apascentava os ânimos. As brincadeiras eram infinitamente alegres e provocavam a criatividade. Diques e açudes assoreavam as ruas e invadiam a passagem dos carros. Eu era mera personagem dessa história de chuvas? Descia pela rua pisoteando a água, remexendo os sonhos de algum príncipe escondido n’algum “castelo”. Menino que simplesmente me assistia passivamente passeando pela chuva, chacoalhando a água com os pés, espargindo sonhos por aí...
........ Foi assim, nesse diálogo com a chuva que comecei a escrever. Tentava nas palavras encontrar o cheiro da terra e os sons das águas lavando e levando as pedras do calçamento. A verdade era para mim como essa chuva. Procurava me encontrar em meio a esse rio de palavras todas que escorriam pela rua desfarelando os sonhos pela enxurrada. A chuva naquele tempo era também a expressão dissimulada do meu pensamento. Eu, mera criança, apreendia o mundo como se eu fora extraterrestre. Tinha dificuldade de escrever. As águas lavavam-me as idéias. Meus textos eram híbridos e insípidos...
........ Hoje, porém, a chuva e eu podemos andar de mãos dadas...
Por Claude Bloc
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