sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Águas Nascentes


O que há por trás dessas águas? Perguntava-se o menino olhando com curiosidade para a nascente. Olhava para aquelas águas desconfiado com os olhos mais abertos e menos cotidianos. Olhos açucarados tentando enxergar as nervuras do chão através da lenta e silenciosa correnteza. Observava aquela água minando das pedras, pelas brechas, pelos vãos. Eram as nascentes da Serra que brotavam do chão como numa mágica...

Sempre tivera a curiosidade de ver o que havia lá dentro daquele mundo transparente das águas. Mas sonhava além. Peixes, areias claras arrastadas pelo aluvião. Enxurradas no tempo das chuvas. Tudo num ciclo sem fim de finais e recomeços.

Morava pelas redondezas, em outras encostas, perto das águas. Da janela via as subidas e descidas da serra e o infinito azul do céu... E a água ia jorrando espumas, cuspindo peixinhos. Vez por outra o menino punha seus pés nas águas para sentir-lhe a frescura enquanto o sol seguia pelo arco celeste curtindo-lhe a pele.

Por um longo tempo ficava absorto. Ouvia o canto sutil das águas. A música que viajava em seus ouvidos. Queria apenas continuar molhando seus pés na nascente, sentindo seu cheiro molhando a terra, o mormaço ardendo em suas narinas. Queria só ficar olhando os minutos passarem além da nascente, do sol, da coreografia das águas.

Sabia que não podia viver longe da serra, nem daquelas águas cristalinas. As águas eram seu destino. Olhava para a serra ofegante e para as águas frescas e queria dar-lhes vida em seus sonhos.

E dentro de si, no encalço da atitude mais silenciosa queria ouvir a voz do universo naquelas águas benditas. Águas da nascente.

Texto e formatação da imagem por Claude Bloc

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