sábado, 30 de maio de 2009

Marés


Todos estes são os meus dias
Dia da serra, dia dos mares
Hoje me banho nas águas
Dos mares que me embalaram
Desde os meus primeiros dias.
Mares revoltos, mares rebeldes
Mas hoje em calmaria
Mares de longe, mares abertos
Que me trazem a revelia
Teu nome em meus segredos.

A maré me enche e vaza
Até onde a vista alcança
E fica na praia o sonho
Em meu nome, em teu nome
Por dias e dias afora.
Teu nome sempre está lá
Gravado na mesma rocha
E as ondas vêm e insistem
Em trazer o sonho pra mim
Na premência dos meus dias.


Claude

Ruídos de água

Enquanto chega o domingo, uma conversa de sábado...
 E onde anda a poesia?

A quem devo amar neste momento ?
O que devo olhar, além do sonho e do silêncio?
A que devo amar, senhor de todos os mares?
E o que devo escutar além do ruído dessas águas?
A quem devo mostrar o amor que tenho guardado?
A quem devo obediência
..................... quando já vivi três quartos do tempo?
Onde vou deixar meus versos e prosas
Que se estampam em contrapasso
...................... no tempo?
A quem, pergunto eu...
A quem devo amar neste momento de espera?

Texto e foto de Claude Bloc

sábado, 23 de maio de 2009

Coisas de sábado...


.... Há coisas que nos vêm assim devagarzinho, meio (in)esperadas, mágicas ou totalmente esdrúxulas. São coisas de fato?
.... Coisas que nos inquietam, que nos atiçam, que nos trazem os sabores da noite, ou os ruídos surdos da madrugada, como o palpitar de uma lembrança, ou quem sabe, a sombra de um sonho que gostamos de manter sob as pálpebras, sem qualquer pudor. Que cores têm essas coisas?
.... Há coisas que nem revelamos. Que guardamos em nosso relicário secreto. Coisas que nos trazem de volta rostos que não podemos esquecer. Coisas que representam o presente ou o passado, e tudo o que nos é caro. São as coisas que nos acontecem no momento exato em nos deparamos com a verdade e entendemos que, no mais profundo de nós mesmos está sempre essa criança indomável que nos interpela e que nos impele às “coisas (im)possíveis”... aos trocadilhos, à liberdade (in)cômoda, ao discorrer de uma longa história (quase) sem sentido, mas tão sentida.
.... Há coisas que nos fazem tropeçar e, nos tropeços, nos fazem andar pra frente. Somos então, nesse momento, mera e simplesmente seres errantes nessa coisa que se chama vida, procurando acertar o nosso passo e nosso (p)rumo.Coisas da vida!
.... Há coisas – pois que não há outro nome para isto - que nos atropelam e, paradoxalmente, nos envolvem com o mel da doçura... Coisas, coisas tantas. Coisas que queremos manter em nosso pensamento, coisas que, de tão simples são tão intensas. Coisas que nos aquecem a alma. Coisas lindas, que não queremos findas. Coisas que tecem as nossas emoções, e que nos fazem felizes. Coisas bobas?
.... quais são essas coisas?
.... Digo: coisas que sempre prezamos, coisas de que ardentemente precisamos: o sentimento mais nobre, o sentimento mais leve...
.... Coisas que nos engrandecem e que se cristalizam no âmago do nosso ser. Como um sentimento que gruda e nos faz exultar.
.... E aí nos perdemos para nos encontrarmos na essência dessas coisas, e essa essência não cabe dentro das próprias coisas... Tentar capturar essa essência seria um pouco como tentar guardar uma gaveta dentro duma outra gaveta rigorosamente igual. De qualquer forma, quem é que disse que uma gaveta é para guardar coisas? Por que é que não podemos ter uma gaveta vazia reservada para a essência daquilo que julgamos querer ou ter?
....E de onde nos vêm essas coisas que tanto queremos e não sabemos explicar?

Por Claude Bloc

domingo, 10 de maio de 2009

Mais uma vez, saudade!

Casa da Serra Verde - Pintura a óleo de Claude Bloc

...... Eis-me em silêncio, numa dessas fraturas de um tempo de aceitação. Aceito essa saudade que me chega em meio aos sargaços da idade...Essa saudade que é fruto da minha lembrança, e que vai aos poucos embaraçando-se em tantas e tantas fugas, cicatrizes, contrapontos... Saudade que me enlaça nesse imenso azul me abordando sutilmente, abrindo as comportas dos sentimentos e o tropel silencioso das horas insólitas...

...... A saudade não me causa fadiga: ela me acerta e me completa. Com o refluir do tempo, ela acaba sendo para mim a súmula de tudo para se tornar a essência do meu canto.

...... A saudade não subjaz ao simples acaso de um verso. Ela faz pulsar a arte nos desconcertos da poesia...

...... A saudade, a minha saudade, inscreve-se no silêncio, como uma órbita revelada em metáforas. Rompe a crosta que a separa do encantamento e vai concentrar-se nos vazios da alma...

 ...... A saudade do Crato é outra história. A minha!

Por Claude Bloc