domingo, 26 de setembro de 2010

Carta a Edilma
- Claude Bloc -


Amiga, Edilma,

A você que sempre me prestigia com sua amizade, que me entende, que me lê e me incentiva, que, como eu, anseia em tomar a velha estrada que se estende até a entrada da velha casa – França Livre - quero agradecer pela linda tapeçaria de palavras e imagens que vem bordando neste blog. Confesso que o que tem me deixado inquieta esses dias é a existência de muitas palavras silenciosas que não saem da nossa boca, por maior que seja o esforço ou a intenção de expeli-las porta afora. Você as deve conhecer muito bem: são aquelas palavras cruzadas aqui dentro do peito. Entrelaçadas atapetando um chão tantas vezes varrido pelo silêncio, que faz questão de nos esconder e encobrir à sombra da chapada sem, no entanto, se preocupar em nos guarnecer ou dar conforto algum.

Mas, sabe, Edilma, ontem fiquei lembrando das quantas e quantas vezes que estivemos lá pela Serra Verde nas férias e de como preenchíamos de alegria nossa vida naqueles momentos em que saíamos a cavalo pelas estradas cantando, galopando, vibrando. Dos intermináveis banhos no açude. Dos jogos de baralho à noite... e das cantorias noturnas na casa de Maria Alzira, motivadas pelos vários “lotes” de pipoca quentinha.

E as festas? A melodia extraída da sanfona ao som da noite embalava o movimento circular dos participantes e envolvia a gente ao ritmo das batidas do peito. O coração se revestia de seda para servir àquela cadência festiva tal como um pandeiro seguindo um violão plangente. Assim se podia dinamizar a energia vital do ambiente.

Era simplesmente sublime esse tempo. Pela sala vestidos rodados e o cheiro de extrato barato bailavam pelo salão. Nossos vestidos resplandeciam sobre as paredes cruas da casa. As mocinhas se enfeitavam para se apresentar ao mundo e ofereciam aos olhares curiosos um porte majestoso e delicado ao mesmo tempo...

Agora, numa nova roupagem, nos sentimos dispostas mais uma vez a trançar novos fios, a traçar novas linhas na nossa vida, sem o medo das palavras que ressoavam antes. Esta é nossa nova vida incorporada, motivo e valor de nossa atual devoção. Eis o ímpeto para fazer figurar nossa amizade fraterna, com orgulho, nossa história em uma nova tapeçaria de palavras.


Abraços, mana



Claude

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