sábado, 21 de março de 2009

Não te disse... - Por: Claude Bloc

Ainda não te disse, mas a noite habita todos os meus manuscritos. Enquanto o sono me amarrota os sonhos, cá estou a escrever. A pensar. A chorar. A tentar conter a esperança. A demover intenções. A dedilhar incertezas. Inquietações. Nessas plagas noturnas nem mais sei o que desejo ou se sou insensata.

Não te disse, não, não te disse. A chuva parou. Sequei o inverno e recoloquei as palavras na gaveta para não me magoar. Dissequei alguns advérbios de tempo e de bons modos. Reacendi a luz do pôr-do-sol. Desenrolei os filamentos do teu nome em minha memória... mas também não disse que soletrei gota a gota a chuva que bebi dos teus olhos em noites silentes. Que descobri meu rosto e lixei o cheiro das tuas palavras. Tirei-lhes as arestas. Apaguei meu pranto e as ficções da tua alma. Matei tua poesia...

Atirei pedras na lua feito louca, mas não te disse! Ela foi a culpada! Logo percebi o meu delírio... Acariciei as pulsações de tua voz ... Tentei falar a última vez sobre um último beijo, o último poema. Mas não te disse!

Sei apenas o que ouvi dizer sobre as páginas em ebulição que te escrevi. As águas que vieram desaguar na mansidão dos rios em direção ao mar que idealizei. E agora, eis-me num planeta estranho onde não sei de cor o tom de azul que eu não te disse. Assim como não sei dos astros onde revoas, em que te escondes. Só na poesia é que os conheço.... Não reaprendi os dialetos da tua boca e é por metades que escrevo e me apago nas linhas cúmplices das incertezas que não dissequei.

Não te disse para não lagrimares minha saudade, pois todas estas coisas já não são. Tornaram-se apenas pontos de onde os desejos se despem e dançam e se despedaçam... Onde a incerteza reclama meu exército de solidões e por onde vou levando murmúrios em mi bemol, nessa canção de embalar meus sonhos. E já não sei onde a vida, por ouvir dizer, ainda diz que existe.

Por isso não te disse nada! Para te livrar das utopias que não consigo corrigir ... Só sei o que ficou por dizer. E se já não tiveres bravura para ler, apaga-me. Risca tudo. Passa uma borracha nos olhos, pois eu só disse metade. Para não me magoar com o ácido de meus versos. Versos que retiro da gaveta além das reticências.

***
Por: Claude Bloc

Um comentário:

Jaques A Teixeira disse...

Andaluzia

Ah! Se me bem me lembro dos dias de kermesse,
Na praça tua davas voltas, de cabelos soltos ao vento,
E eu a espera certa do momento.
Mas eras tão tímida e tão plena de finesse

Que impedia de te me aproximar.
Um dia , te trouxe uma alamanda amarela
Pra te ver feliz , adornar teu cabelo,
E teu a semblante terno e belo, melhor realçar .

Hoje, a kermesse não mais existe
Mas o que me deixa, realmente triste
E o vazio de não mais poder te olhar.

Restou-me apenas na memória, o brilho da luz,
no contorno do teu rosto, e teu desvelo.
Como aquela jovem andaluz ,
De alamanda amarela,no cabelo.

Só agora sei,que não era tibieza o teu jeito
Talvez fosse uma escolha equivocada
Em vez de ser minha namorada
Era outro que morava no teu peito