segunda-feira, 20 de abril de 2009

De pernas pro ar...

...... Se hoje nada mais der certo pego as minhas coisas jogo numa mala e me mando pro Crato. Se nada mais der certo saio por aí pisando nas flores caídas pela rua enquanto finjo que não vejo os olhares atravessados do outro lado da rua, perscrutando meus movimentos. Se nada mais der certo compro um guaraná, bem gelado, e nada de papo.
...... Se nada mais der certo escrevo um poema, um dilema e me perco na obscuridade do silêncio. Se nada mais der certo vou em busca dos amigos. Vendo meus anéis, brincos e colares e compro uma passagem – pra onde, não sei. Se nada mais der certo componho uma música para alguém... e canto em falsete pra espantar a tristeza. Se nada mais der certo ligo a TV e finjo que assisto às novelas. Mesmo se ninguém gostar do meu senso de humor, sei que farei um bocado de gente sorrir da minha cara ridícula na tela – eu na tela?
...... Se nada mais der certo vou saber que não devia nunca ter emprestado aquele livro para minhas colegas. Se nada mais der certo escrevo mensagens para minha lista de amigos e como ninguém me responderá, nunca saberei se leram ou o que pensaram de meus textos. Se nada mais der certo ouço meus poucos CDs e ainda choro recordando as músicas do Ray Connif. Se nada mais der certo vou-me embora de ônibus e faço cara feia pro menino que ficar me olhando com cara de sapeca.
...... Se nada mais der certo bato à porta daquele bom amigo e negocio uma xícara de café por um antigo retrato. Se nada mais der certo desisto de dar certo e lavo as mãos...
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Por Claude Bloc

2 comentários:

Jaques A Teixeira disse...

“...eu vou pro Crato,vou matar minha saudade,rever minha...”

Na verdade, a grande verdade dos sonhos é que até as lágrimas que vertemos, se cristalizam e se eternizam nas nossas retinas, ali permanecendo, ad infinitum, incólume a ferrugem do tempo.
Os nossos grande sonhos e desejos, às vezes proibidos, permanecem para sempre ignotos e trancafiados do mundo, mantendo-se apenas nas profundezas abissais do nosso coração, em dimensões que correm em paralela àquela que complementa e completa a história que não finda.
Podem nos tirar quase tudo, menos a nossa alma, o nosso âmago.
Ninguém nos pode tirar, as nossas lembranças silentes e adormecidas a quem tudo se confia,a própria vida em uma taça.
Por isso não há quem desfaça o que destino marcou...

Perdi os livros que mais gostava, os emprestei...
As canções mais doces e ternas que me embalaram, não sei onde as deixei.
A cachaça guardada em coco , de sabor tão doce ,não sei onde as enterrei.
As fotos escondidas nos livros ,que trazia sempre comigo,por castigo as perdi

A minha amiga mais querida, um inimigo a levou.
A figueira, sob a qual ficamos tantas vezes,o tempo a secou
A alamanda amarela , que levavas no cabelo, a muito murchou

E valeu a pena? Não morremos de pena ,
Apenas de consumido ,como vela que extingue, ao clarear do dia
Mas à sua luz, juras foram feitas...
Nesses encontros marcados e guardados à sombra do tempo
Cristalizados e retidos eternamente nas nossas lembranças.

Portanto não vou matar a minha saudade vou revivê-la , em toda a sua plenitude ,cada vez que ali volto...
JAT

Unknown disse...

De Pernas pro Ar

Se hoje nada mais der certo pego as minhas coisas jogo numa mala e me mando pro Crato. Se nada mais der certo saio por aí pisando nas flores caídas pela rua enquanto finjo que não vejo os olhares atravessados do outro lado da rua, perscrutando meus movimentos. Se nada mais der certo compro um guaraná, bem gelado, e nada de papo.
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Se eu tivesse só algumas moedas, um albornoz com coco e batida de engenho
saía do emaranhado em que sou estranho e desse mundo que desdenho.
Evitaria as flores do caminho, desviava e não finjo
Mas se alguém me olha com tanto empenho
Trocaria guaraná por cajuína, embora venho
A procura da fonte cristalina.
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Se nada mais der certo escrevo um poema, um dilema e me perco na obscuridade do silêncio. Se nada mais der certo vou em busca dos amigos. Vendo meus anéis, brincos e colares e compro uma passagem – pra onde, não sei. Se nada mais der certo componho uma música para alguém... e canto em falsete pra espantar a tristeza. Se nada mais der certo ligo a TV e finjo que assisto às novelas. Mesmo se ninguém gostar do meu senso de humor, sei que farei um bocado de gente sorrir da minha cara ridícula na tela – eu na tela?
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Se nada der certo, declamo cordel
Na feira ,para todos os presentes ,
Faço um grande escarcéu .
Direi que venho de longe, atravessei o deserto
Insisto em lutar. Sou menestrel, trovador
Tenho fome e sede e um destino incerto,
De aldeia em aldeia até alguém ouvir minha dor
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...... Se nada mais der certo vou saber que não devia nunca ter emprestado aquele livro para minhas colegas. Se nada mais der certo escrevo mensagens para minha lista de amigos e como ninguém me responderá, nunca saberei se leram ou o que pensaram de meus textos. Se nada mais der certo ouço meus poucos CDs e ainda choro recordando as músicas do Ray Connif. Se nada mais der certo vou-me embora de ônibus e faço cara feia pro menino que ficar me olhando com cara de sapeca.
...... Se nada mais der certo bato à porta daquele bom amigo e negocio uma xícara de café por um antigo retrato. Se nada mais der certo desisto de dar certo e lavo as mãos...
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Se ninguém me ouvir eu tiro a minha viola do saco
Me sento na esquina, mesmo se for desacato.
Eu canto serenata, eu gemo, eu grito até desafinar...
Eu invento rimas ou canções antigas
Dos antigos repentistas e das noites de luar
Chupando cana, em volta da fogueira, e contando histórias
De lobisomens e boi tatá
E se mesmo assim, ninguém me ouvir
Aí sim, eu ponho minhas pernas pro ar !...