quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Viagem


A estação de repente ficou vazia
O apito do trem se extinguiu no espaço
O mundo logo pareceu pequeno
Naquela janela de ferro e de aço
Tudo é passagem, tudo é nostalgia
No semblante doce, na feição serena
De quem fica, em terra, à sombra da alegria...

Os dias passam: contagem regressiva
O caminho é longo
O Crato é bem ali...
Nos trilhos antigos,
ficam
as saudades
...as retas
......as curvas
...as voltas
......os canaviais
que não mais veremos, além da memória
nesse percurso rumo ao sonho, rumo ao passado...

A estação agora tem cheiro de café
A vida passou e o trem saiu do trilho
Somos mutantes
...Somos passageiros
......Somos nuvens
.........Somos fumaça
E por não saber decifrar o mapa
Tantas vezes nos perderemos no trajeto.

A estação ficou e nós passamos
Como se passa uma primavera
E detectamos ao chegar mais perto
Que nada se perde ao voltar
à serra
...à terra
aos cheiros
...à estrada
Sempre há de se encontrar
...................... a magia pronta e certa...


Escuta, ouve, é o apito de mais uma partida
Partiremos para novos lugares
sem roteiros
... sem destino
...... sem poente ou nascente
A direção é a saudade
O maquinista será o tempo
Na plataforma da nossa história...

Não se canse
não desista
...se cansar, acene,
O trem não te deixará
Não hesite,
Não erre o percurso
A viagem prossegue
no vagão de primeira classe.

Por Claude Bloc

Um comentário:

Jaques A Teixeira disse...

Tenho verdadeira paixão por Trens , Moto-Cicletas e Jeep 1951.Eles fazem parte dos fantasmas que povoam a estrada da minha vida:velhos companheiros de jornada...
Ah! Como bem me lembro das minhas primeiras viagens de trem: Máquinas Diesel,enormes, quantos carros:vagões restaurant,vagão de mercadoria,vagão correio.Gostava de viajar no último vagão,porta aberta, olhando pra trás vendo a vida passar... parece que tudo nos seguia... e eu guardando nas minhas retinas as imagens que agora desfilam ,diante de mim... Mas lembro-me, com muito mais carinho da velha Maria-Fumaça, sempre atrasada. Emitindo o seu apito quando se aproximava da Estação ou quando o “Maquinista” cumprimentava alguém,advertia animais, para que não cruzassem, ou paquerava alguma”mariazinha” lavando roupa no rio: Piuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiii Ao contrário das Máquinas Diesel que já tinha um som grave de tenor rouco :Fooooooooooonnnnnnnnnnnnn ! Amedrontavam! E os cabritos saltitavam ,como loucos,fugindo daquela monstruosidade vermelha.

Aos oito anos ,subi naquele trem que ia pra cidade grande, pra capital. Ainda percorri 60 km,mas em uma daquelas tantas estações que ela parava ,algumas pessoas conhecidas,talvez parentes, me tiraram fora e me levaram pra casa. E eu que pensava em ir até a Africa ,não fui mais do que até ali.
Os meus planos pra ser “legionaire” estavam cada vez mais distantes...ou se distanciado de mim, seguiram a bordo daquele trem,que nunca mais alcancei.

Hoje ,aquele trem não mais existe ,a “mariazinha” ainda lava roupa à margem daquele rio ,agora mais vazio e poluído, e ela como tantos amargurados e tristes por não mais ver piuiiii voltar.

Andei em outros trens:Pampeiro, Húngaro entre outros tantos; Estradas estreitas e tortuosas, como a de Paranaguá ,.s vezes as baldeações e muita espera como Barra do Pirái, mas nada se compara ao encanto de adormecer sob o embalo e ruídos das rodas a atritar dos trilhos,nas nossas primeiras viagens. Talvez seja um amor tão verdadeiro,desses a quem se é fiel , sem restrição,a moda antiga e mesmo que distante e não saibamos mais um do outro , não substituímos ,nem abandonamos nunca .Perduramos para sempre...
JAT