terça-feira, 7 de abril de 2009

Reflexos

...... Cabelos ao vento saltam na testa em cascata. Sorriso esboçado, mas eloqüente. Traços finos de lábios cor de jaspe. A pintura é natural como na tela ou no espelho... A tarde nublada dissimula a idade, esconde os vestígios da transição do tempo... O reflexo no espelho é (in)finito. Mostra tudo e mais nada dessa visão insubordinada do que de fato sou. Há sempre mais de mim. Ou menos, não sei bem.
...... Apago a expressão canhestra e desafiadora que me faz mergulhar na liquidez do meu ser. Preciso então molhar meu rosto, deixar o sonho escorrer, dar vida a essa vida dentro de mim. Fechar as pálpebras e deixar-me ir além das tinturas fisionômicas, nessa captura de mim mesma, transformada refletida.
...... Enxergo o que fui ontem, o que hoje sou. Passagens achatadas pelo tempo. Vejo-me menina e/ou mulher. Afoita ou intensa. Insegura nas mais vezes. E assim prossigo desenhando nessa tela os retratos de minh’alma misturados ao íntimo do meu ser.. Como uma impressão digital que marca a história de todos os meus reflexos...
...... Espelho-me nesse enigma que é a vida e em seus estilhaços percebo o olhar penetrante que me observa. E me vejo finita, findável nessa imagem congelada. Sou, então, o reflexo abstrato, o rascunho concreto no lume do espelho onde me encontro, no olhar refletido na memória... Enquanto cada instante é ( in)finito.
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Por Claude Bloc

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